Sabia que a faca não é cega?

Ilustração colorida que mostra pessoas se locomovendo de um lado para o outro. São pessoas com e sem deficiência. Algumas delas utilizam cadeira de rodas, muleta, andador, cadeira de rodas elétrica, e auxílio de cão guia. São pessoas diversas em suas etnias, idades e jeito de se vestir.
Imagem: Getty Images

Texto publicado originalmente no portal Ecoa UOL.

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03/12/2021 - Por Claudia Werneck

A sociedade não é deficiente. 

Características humanas não são adjetivos. 

Por isso o nó não é cego. 

Nem é capenga um projeto que não vai bem. 

Assim como não é surda aquela pessoa que insiste em não aceitar seus argumentos. 

Deficiência não é doença. 

Deficiência é uma condição humana. 

Deficiência não é sinônimo de falta. 

Deficiência não é sinônimo de imperfeição.

Deficiência não é sinônimo de algo vazio ou incompleto. 

O contrário de eficiência é ineficiência. 

Há pessoas com deficiência eficientes e ineficientes em uma ou em muitas perspectivas.

O diferente não existe. 

A diferente também não. 

Porque todo mundo é infinitamente diferente. 

A deficiência é uma diferença que dialoga com todas as outras. Pra sempre. 

Não existe deficiência pura.

Toda deficiência é composta. 

Toda deficiência depende. 

Toda deficiência é mutante. 

Nenhuma deficiência é binária. 

Inclusão não é colocar pra dentro quem tá fora. 

Quem ama também discrimina. 

Libras sem legenda tá mais na linha do marketing. 

Auto descrever-se no início das lives não é audiodescrição. 

Discriminar não é apenas eliminar acesso a bens, serviços e direitos. 

Discriminar também é dar direitos em excesso, que deixam de ser direitos. 

Lágrimas não mudam o mundo, mas deixam feliz quem chora. 

Superação é palavra utilizada quando se espera muito pouco daquela pessoa. 

Pessoas com deficiência têm direito ao planeta todos os dias, e não apenas em dias de festa. 

Direitos atrapalham quando nunca se teve acesso a eles? Há pessoas com deficiência que nunca foram sujeitas de direito. 

Há pessoas com deficiência que não sabem o que é inclusão. 

Há pessoas com deficiência que não querem inclusão. 

Especial é a palavra que a sociedade usa para designar alguém que ela acredita estar em muita desvantagem e, consequentemente, sempre será um ônus para ela. 

A exclusão é um exercício sem fim. 

O último estágio de quem se habitua a excluir é o desejo de matar.

Nada é inclusivo se não for plenamente acessível. 

A inclusão é um exercício sem fim. 

O último estágio de quem se habitua a praticar a inclusão é a sociedade inclusiva. 

Não há prêmios para quem pratica inclusão. 

Ainda assim, é o único caminho para uma sociedade plena de direitos. 

Discriminar se aprende. 

Não discriminar também se aprende. Mas quem vai ensinar? 

Nem toda discriminação é crime. Toda discriminação é criminosa. 

Discriminação doi. 

Discriminação empobrece. 

Hoje é o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência.