Entrevista Claudia Werneck para o JB em Folhas

Versão acessível da entrevista publicada no JB em Folha no dia 15 de maio de 2025, no link https://jbemfolhas.com.br/historias-de-inclusao/ e em versão impressa.
Card de divulgação em fundo claro, com o título "ESTANTE" em destaque sobre uma tarja verde no topo. Abaixo, há a apresentação do livro "Tia Zilda – Histórias de Inclusão", de Claudia Werneck, com 122 páginas. Ao lado esquerdo, está um trecho do livro em letras azuis, “Tudo precisa ser construído ou reconstruído para dar conta das necessidades e dos desejos de pessoas que existem, e não para aquelas pessoas que gostaríamos que existissem. Praticar inclusão é sair dessa espécie de delírio coletivo de que a humanidade é de um jeito, sendo ela de outro! Somos uma espécie que não se enxerga nem se aceita como é”, Claudia Werneck, a autora. No lado direito, aparece a capa do livro, que traz uma ilustração de uma mulher negra com cabelos volumosos em forma de folhas, abraçando o planeta Terra com ternura. Abaixo do título do livro, aparece o nome da autora. No rodapé do card, há o logo da JB em Folhas, com a frase “20 anos”.
Texto: Simone Intrator
A jornalista, escritora e ativista Claudia Werneck, fundadora da ONG Escola de Gente, acaba de lançar seu 15o livro, o primeiro do Brasil com nove formatos diferentes de acessibilidade — e seu primeiro livro de crônicas. “Tia Zilda. Histórias de Inclusão” foi construído a partir de textos publicados na grande mídia, sobre os mais diferentes acontecimentos e reflexões da autora, todo misturado, “como deve ser a inclusão”, explica, mas com um elo entre eles: a defesa de Claudia de que a prática inclusiva é a base da participação democrática. E que, para efetivamente existir, é preciso que haja uma revolução sistêmica: “Tudo precisa ser construído ou reconstruído para dar conta das necessidades e dos desejos de pessoas que existem, e não para aquelas que gostaríamos que existissem. Praticar inclusão é sair dessa espécie de delírio coletivo de que a humanidade é de um jeito, sendo ela de outro! Somos uma espécie que não se enxerga nem se aceita como é”, conta Claudia nesta entrevista, em que fala também sobre por que o livro é distribuído e não vendido, e como pode ser usado em escolas, principalmente para estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Claudia já adianta que muitos textos ficaram de fora e por isso já planeja o “Tia Zilda. Histórias de Inclusão 2”. Nosso desejo é que até o próximo volume este texto também tenha nove recursos de acessibilidade.
Fotografia da autora Claudia Werneck sorrindo com expressão alegre, olhando para a câmera. Ela segura o livro "Tia Zilda – Histórias de Inclusão" com a mão direita, exibindo a capa para o público. A autora veste uma blusa em tons alaranjados e terrosos, tem cabelos grisalhos curtos penteados para trás e usa óculos escuros de grau. A capa do livro que ela segura é branca com espiral lateral, e traz a mesma ilustração presente na imagem anterior: uma mulher negra de olhos fechados, abraçando o globo terrestre, com cabelos em forma de folhas. Ao fundo, vê-se uma pintura mural em tons terrosos, levemente desfocada.
Foto: Divulgação
JB em Folhas: Por que fazer, desta vez, um livro de crônicas?
Claudia Werneck: Estava com vontade de reunir minhas crônicas e artigos publicados aqui e no exterior há muito tempo, porque eles são bastante requisitados para entrar em concursos e fazer parte de livros didáticos por diversas editoras. O que me deu o start para preparar este livro, entretanto, li, em uma matéria, há mais ou menos dois anos, que a Ministra Sonia Guajajara, havia dito que o “Ninguém mais vai ser bonzinho, na sociedade inclusiva”, um livro que escrevi em 1997, era sua obra preferida. Isso me deixou muito feliz, porque eu a admiro muito. Nos aproximamos e por isso eu a convidei para escrever um dos prefácios deste livro. Na pesquisa para escrevê-lo, ficou muita coisa de fora, por isso, decidi que vou escrever “Tia Zilda. Histórias de Inclusão 2”!
JBemF: O livro todo é acessível em diferentes formatos. Você acha que a crônica como gênero textual é também mais acessível?
CW: Imagino que um livro com crônicas e artigos não acadêmicos, publicados em jornais como O Globo, Folha de S.Paulo, Jornal do Brasil, Uol, revista Pais&Filhos, entre outros veículos, seja mais acessível, sim. E, neste caso, a ordem não importa. É possível ler uma crônica do fim e depois voltar para o início. Fiz questão de misturar tudo, como deve ser a inclusão.
JBemF: Cada texto é muito único, mas há sempre um fio condutor ligando todas as histórias. Qual é esse fio?
CW: A minha crença de que o exercício cotidiano da inclusão é a base da participação democrática. Mas aqui faço uma ressalva: defendo a inclusão como uma revolução sistêmica, na qual tudo é construído ou reconstruído para dar conta das necessidades e dos desejos de pessoas que existem e não para aquelas que gostaríamos que existissem. Praticar inclusão é sair dessa espécie de delírio coletivo, em que imaginamos que a humanidade é de um jeito — e ela é de outro. Somos uma espécie que não se percebe e se aceita como é.
JBemF: Para quem você escreveu este livro? Acha que pode ser trabalhado em escolas?
CW: Escrevi este livro principalmente para a Educação de Jovens e Adultos, a EJA, pelo fato de o livro ter nove formatos acessíveis e falar de inclusão. A EJA é muito pouco valorizada e reconhecida pela sociedade como modalidade de ensino fundamental para dar oportunidades reais de pertencimento a pessoas adultas que têm deficiência e/ou que não conseguiram aprender a ler ou continuar estudando por algum motivo, e são inúmeros esses motivos, relacionados à desigualdade social, ao capacitismo e ao racismo.
Este livro foi feito e pode ser útil principalmente por meio de seus formatos acessíveis para ser trabalhado desde a educação básica até o ensino superior, sem dúvida, em sala de aula. Não conheço outra obra no Brasil sobre inclusão que dê tantas possibilidades, inclusive para formação de professores.
JBemF: Por que optar pela distribuição ao invés da venda?
CW: Acredito que a acessibilidade é também uma questão financeira e, por isso, na Escola da Gente, não cobramos nada de um beneficiário final. Todos os nossos projetos de Lei Rouanet oferecem teatro, livro, exposição, formação e oficinas, entre outros produtos culturais gratuitos. E este livro é um projeto de Lei Rouanet patrocinado pela Vale, pelo Itaú e pela Genoa Capital.
JBemF: É difícil fazer um livro com tantos recursos de acessibilidade?
CW:Muito demorado, trabalhoso, delicado e difícil sim. Tudo deve ser pensado, desde o orçamento. A WVA Editora e a Escola de Gente, dessa vez, criaram um formato novo para livros: o filme com legenda, Libras e linguagem simples. Para o Braile, disponibilizamos o formato acessível DOC, de modo que qualquer instituição ou empresa possa imprimir o livro nesse formato, em qualquer quantidade, e dá-lo. Só não poderá vendê-lo.